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quarta-feira, 18 de julho de 2012

ENTREVISTA COM A ESCRITORA/EDITORA MIRIAM DE SALES OLIVEIRA

“O público, hoje, vive numa sociedade de massa e lê o que aparece e o que a mídia aponta como bom.” (M.S.O.)
Por Anna Carvalho*
“Sou, como muitos escritores atuais, fruto da internet. Comecei a publicar contos, crônicas e artigos na rede, em 2008, utilizando o espaço de sites e jornais virtuais. Publiquei textos em antologias e arrisquei meu primeiro livro. Curiosa, lancei-me na aventura do livro digital...”.É dessa forma que a professora baiana formada pela Faculdade de Filosofia da Bahia, escritora por vocação, estudiosa de História e Literatura, editora e multifuncional Miriam de Sales Oliveira se define no seu site. Autodidata, gostava de fazer pesquisa histórica e literária, valendo-se, muitas vezes, dos inúmeros livros de sua biblioteca particular.
“Miriam de Sales é inteligentíssima, inovadora e uma das melhores autoras contemporâneas da literatura baiana. A atuação dela vai muito além da escrita e publicação, pois ela abre portas para os autores baianos onde quer que ela vá, ainda mais agora, atuando também na Pimenta Malagueta Editora e colocando os autores baianos nas principais livrarias do país”, disse o prestigiadíssimo autor baiano e idealizador do projeto Fala Escritor, Leandro de Assis.
Como pedagoga especializou-se em Piaget e Maria Montessori, ministrando cursos sobre esses mestres em várias escolas particulares de Salvador. Seus trabalhos literários são ecléticos, um passeio por vários temas, porém, todos com uma boa dose de humor. Escreve para vários sites e para jornais e é membro da Academia Poçoense de Letras e Artes, ocupando a cadeira 55. Alem de tudo isso, ela é membro da Academia de Cultura da Bahia, membro do Comitê de Autores da Câmara do Livro da Bahia.
“Agora que, com o advento da internet, brotaram novos talentos literários, está na hora de sacudirmos a literatura neste país que se encontrava semimorta. Esse contato com o autor e com os leitores é um fato muito gratificante para o editor. Trabalhoso, mas estimulante. Lidar com os mais diversos profissionais da editoração, artistas ilustradores é uma aula de diplomacia e trato com o público que o editor recebe todo dia. Todos os dias conheço pessoas novas e avalio textos. Sugiro correções, mas aqui, o autor é soberano.Ele é o dono do livro, eu só interpreto seu desejo”, disse Miriam. Agora, leiam com atenção essa entrevista exclusiva feita pela também escritora Anna Carvalho com uma das mais simpáticas literatas da Bahia, e olha que simpatia no meio literário é uma coisa  quase em extinção.  
Anna Carvalho – Uma certa vez Ana Cristina César, poeta oitocentista, disse que escrever era como ancorar um navio no espaço. Para você, como é o ato político da escrita?
Miriam de Sales Oliveira – O escritor é um ser do seu tempo. Tem que estar antenado sempre, e, como a política faz parte da nossa vida, seu dever é esclarecer os leitores, tentando criar um mundo melhor. Portanto, deve ser participativo e independente. Nunca ser um escritor gov.com.
Anna Carvalho – Em se tratando de mercado editorial, acho que existe uma exibição marcada de autores que já estão lançados, ou que sejam sucesso, ou ainda que tragam apologias necessárias nos livros de prateleira, somos provincianos também nesse aspecto. O que acha dessa burocracia editorial?
Miriam de Sales Oliveira – Terrível. Não se busca novos valores e as portas destas editoras estão quase sempre fechadas para os novos. As editoras preferem os "pratos feitos" que geram dinheiro, como os best-sellers estrangeiros cujo marketing é pronto e preparado para encantar o possível leitor. A mesma massificação que existe nas artes, na música e no cinema, existe também na literatura. A nossa editora foi criada por uma escritora e, portanto, procura fugir disto. Aqui abre-se espaço para novos talentos.
Anna Carvalho – Florbela Espanca falava do enigma de ser mulher em seu "fofo fátuo", como explicara literatura de gênero num mercado editorial tão politicamente correto?
Miriam de Sales Oliveira – A literatura tem que focar todos os gêneros. O leitor é que escolhe o que deseja ler. Há lugar para os "certinhos", mas os politicamente incorretos também têm sua vez. O talento é perene.Veja o Jack Kerouac, por exemplo.
Anna Carvalho – Qual a sua opinião, como editora e leitor-crítica, sobre a literatura contemporânea?
Miriam de Sales Oliveira – Anna, a literatura reflete sua época. Livros muito ruins estão nas prateleiras e são vendidos. O público, hoje, vive numa sociedade de massa e lê o que aparece e o que a mídia aponta como bom. Os livros que estão entre os mais vendidos isso sim, mera obra de ficção – pois, vendidos mesmo são os jornalistas pagos pelas editoras para propagandeá-los. "A Bahia de Outrora", que lancei em 2009, e já está na terceira  edição, vendeu milhares de cópia, especialmente pela internet e não aparece em nenhuma lista. Duvido que aqui na Bahia existam estatísticas que mensurem as vendas de livros.
Anna Carvalho – Salvador vive por uma atmosfera ou um contexto situacional de tédio, festas e alegria estanques, sintomas de uma civilização incivilizada. Como propor o cenário alternativo numa terra que entende que AXÉ SEJA O SEU GRANDE NORTE?
Miriam de Sales Oliveira – Como lhe disse, estamos vivendo a era da comunicação e da escravização mental. O público lê o que o marketing determina, ouve as músicas que tocam massificadamente nas rádios e vê o que a TV mostra. A ninguém interessa esclarecer o povo. Povo esclarecido e lido vota certo. E, isso não interessa ao sistema. "Pane et circus" é o lema.
 Anna Carvalho – Às vezes tenho a impressão de que o mercado editorial seja uma grande lâmina que ceifa todo e qualquer um que queira “peitar” as estruturas latifundiadas pelos escritores de sucesso. Isso de fato existe ou seria mera suspeita da minha parte?
Miriam de Sales Oliveira – O  mercado editorial é um negócio como outro qualquer, e tem que dar lucro. Se alguém tem uma editora, hoje, vive cheio de apreensões, como a chegada do livro digital, por exemplo. E os impostos, os leitores que migram para a internet, os downloads... Assim, se eles têm um autor de sucesso, ancoram-se neste – lucro certo – e não lhes interessa buscar novas aventuras. O maior cliente das grandes editoras é o governo que lhes compra a produção. E os livros didático e paradidáticos, cujas licitações fariam o Cachoeira parecer um anjo. Engraçado, o Ministério da Educação nunca quis abrir essa caixa-preta. Voltando à sua pergunta, não é mera suspeita, não, meta-se com o "establishment" e você será triturada. Como não tenho medo de careta, continuo esclarecendo escritores, mas, alguns ainda caem nas lábias das livrarias e editoras. Porque buscam "status".
Existem grandes grupos livreiros que expõem os livros dos autores independentes, ou melhor, os recebem, mas, colocam os exemplares no fundo da loja, muitas vezes somem com eles e, quando vendem, nunca pagam ao autor. Pois, você acredita que muitos ainda colocam seus livros lá? E depois vão chorar pelos cantos.
Anna Carvalho – Não gostaria que essa conversa fosse apenas tangenciada pela questão de gênero, mas investindo ainda nessa direção, desde Nízia Floresta, Pagu, as mulheres eram petrificadas numa sociedade que entendeu que o gênero feminino era perigoso. Comenta.
Miriam de Sales Oliveira – Claro, as mulheres assustam porque são verdadeiras, guerreiras e enfrentam de peito aberto o sistema. Como disse alguém: “Como não temer o bicho feminino que sangra todo mês e não morre?” (risos) Mas a mulher, como a poesia, que aliás é do gênero feminino, insiste, resiste e persiste. Temos excelentes escritoras e poetisas. Odeio chamar mulher de poeta.
Anna Carvalho – Miriam, você mantém os blogues. Você poderia nos explicar qual o conceito desses blogues?
Miriam de Sales Oliveira – Ana, na verdade são nove. Sou doída mesmo e me garanto. Cada um esposa um gênero. Eles me projetaram na Oropa, França e Bahia. Mais de um milhão de leituras. O "Contos e Causos", o "Café com Pimenta" e "A Bahia de Outrora" foram criados para divulgar os livros do mesmo título. Porém, não são apenas marketng, trata de assuntos sérios e engraçados. "Conversa Fiada” bate nos políticos, comenta notícias, fala de cultura, educação e arte. O "Fiat Lux" trata da filosofia de um jeito que todos entendam. E esclarece o público sobre vários assuntos. O Miriam Sales trata da literatura, na visão da escritora Miriam Sales. O "Só-risos”, bem como o "Lado Avesso", é humorístico, cínico, crítico e desassombrado como a autora. Ainda tenho o blog da editora, onde divulgo nossa filosofia e onde cada autor tem uma página com fotos, biografia e atividades. E, como membro do MIL, escrevo no blog português Milhafre.
Anna Carvalho – O que você acha de blogs como o Literatura Clandestina?
Miriam de Sales Oliveira – O Elenilson é doído como eu e peita tudo. Adoro o blog e admiro demais o autor. Ele veio para arejar esta nossa literatura hoje tão fraquinha, meu Deus! É muito necessária esta abertura no mundo literário fechado em que vivemos. Palmas para ele! 
Anna Carvalho – Descreva a Editora Pimenta Malagueta sob essa pretensão de galvanizar esse grito ainda excluído.
Miriam de Sales Oliveira – A Pimenta nasceu da raiva. E da decepção com as editoras. E da exclusão com que as "grandes" tratam os autores. Depois de levar cinco anos presa a um contrato medieval com uma editora paulista, que me deixou na cafua – não fazia carinho na moça nem saía de cima – ou seja, não publicava meu livro e nem me deixava publicar, jurei que eu mesma publicaria meus títulos. Comecei publicando o "Bahia" e os Contos Apimentados" e, então amigos e leitores da net apareceram pedindo para publicar o livro deles. "Em você, confio", diziam. E, publiquei. Com carinho, atenção e cuidados editoriais. Temos cinco meses e já publicamos vários títulos. Temos uma loja virtual. Temos autores satisfeitos e estou muito feliz. Trabalhamos sob demanda, mas, nosso preço é o menor do mercado. Além disso, damos apoio total ao autor, levamos seus livros as bienais e festas literárias. Colocamos seus livros nas livrarias. Breve estaremos distribuindo para todo Brasil. Estamos lançando uma seleta que dará o que falar. Tratamento editorial de primeira, textos escolhidos e que será lançada na Fliporto, em novembro. Obrigada pela entrevista. Perguntas muito inteligentes e oportunas.
 Miriam Salles com Elisa Lucinda. 
Com a Mabel Velloso.
 Com o saudoso professor Hélio Rocha e Ivone Soll.
 Recebendo o título da Academia de Letras y Artes de Buenos Ayres.
Discretíssima no Projeto Fala Escritor.
 O último lançamento da Pimenta Malagueta Editora, 
o livro “Nas Asas da Gaivota”, de Lucymar Soares.
E "last but not least", aqui vão os endereços
da Editora Pimenta Malagueta:
Rua Polydoro Bittencourt, 31, Bonfim, Salvador - BA
editorapimentamalagueta.blogspot.com
pimentamalaguetaeditora.com.br
lojaedpimentamalagueta.com.br
Contato: miriamdesales@gmail.com
Venha tomar um cafezinho.
fotos: MSO/divulgação

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