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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

IV Cortejo Literário do Subúrbio Ferroviário




Desde a sua 1ª edição, em 2009, o Cortejo Literário do Subúrbio Ferroviário tem mobilizado diferentes atores sociais, individuais e coletivos, governamentais e não governamentais, notoriamente engajados e comprometidos com o desenvolvimento de ações educativas e culturais no Subúrbio Ferroviário de Salvador, sensibilizando-os para a importância de valorizar o livro e a leitura literária como elementos relevantes na formação de cidadãos participativos, críticos, autônomos e criativos.

O Cortejo Literário do Subúrbio Ferroviário é um evento cultural de promoção do livro e da leitura voltada para públicos diversos, especialmente para crianças, adolescentes e jovens participantes de projetos educativos executados por organizações da sociedade civil e de escolas públicas do Subúrbio Ferroviário de Salvador. Em 2012, o 4º Cortejo Literário do Subúrbio Ferroviário apresenta o lema “Pelo Direito de Ler”.

O 4º Cortejo Literário do Subúrbio Ferroviário tem como objetivo “Destacar a importância do livro e da leitura literária na formação de crianças e adolescentes e comemorar o Dia Nacional da Leitura e da Literatura (Lei nº 11.899/2009)”, de acordo com a estratégia de mobilizar diferentes atores sociais atuantes no Subúrbio Ferroviário para a causa do livro e da leitura literária.

O Cortejo Literário e demais atividades de incentivo à leitura e formação de novos leitores executadas pela Biblioteca Comunitária Paulo Freire contam com o apoio técnico e financeiro do Instituto C&A.

Data: 11 de outubro de 2012
Concentração: Praça da Revolução, em Periperi, às 08h00
Saída: Praça da Revolução, em Periperi, às 09h00
Trajeto: Av. Suburbana no sentido Periperi - Coutos
Encerramento: Escola Municipal Cid Passos, em Coutos, às 11h30

Comissão Organizadora
Associação Criança e Família
Biblioteca Comunitária Paulo Freire (SOFIA Centro de Estudos)
Biblioteca Comunitária de Ilha Amarela
CRE Subúrbio 2;
Escola Comunitária Nsa. Sra. de Escada
Escola Estadual ACM
Grupo de Jovens Liberdade Já;
Lar Fabiano de Cristo
Projeto Fala Escritor
Projeto Grupo Dom Quixote

sábado, 22 de setembro de 2012

Aurélio Schommer lançou História do Brasil Vira-Latas


As Razões Históricas da Tradição Autodepreciativa do Brasil

Final de tarde de quinta-feira, sai de casa para prestigiar o lançamento do livro História do Brasil Vira Lata, do ótimo escritor Aurélio Schommer. Coisa rara para mim, sair de casa justamente em horário de trânsito intenso em Salvador, a capital da alegria está cada dia mais triste com os engarrafamentos e em época eleitoral a coisa piora com as carreatas políticas e os infernais carros de som. Tinha que valer a pena essa saída de casa.

Ao chegar à Biblioteca dos Barris fui bem recebido pelo pessoal da Casarão do Verbo (editora), uma garota muito simpática que conduzia os convidados até o autor do livro. Schommer estava sentado dando autógrafos e em seu rosto era obvio a alegria daquele momento, ele recebeu amigos, escritores, anônimos convidados através de entrevista concedida para a TV Bahia com o mesmo carinho e atenção. Muitos, devido aos transtornos da nossa cidade, compravam o livro e iam embora, porém, isso em nada afetou o momento principal da festa, a apresentação do livro pelo autor.

No momento do mais esperado da noite todas as cadeiras estavam ocupadas e todos atentos às palavras de Schommer. Foi um dos melhores lançamentos que já presenciei, lembrando que já participei de mais de 40 lançamentos, devido à organização do Fala Escritor, Aurelio mostrou que não só é um ótimo escritor, como também, sabe cativar o público e despertar o interesse das pessoas pela sua obra, pelo que ouvi dele, afirmo que vale a pena conferir e aprender com o autor sobre As Razões Históricas da Tradição Autodepreciativa do Brasil. Breve farei minha leitura, por enquanto estou lendo “mulheres que fazem sexo e homens apaixonados” também do Aurélio Schommer.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

LANÇAMENTO DO LIVRO CIDADE



No dia 27 de setembro, às 18h00, no Teatro Eva Herz, Livraria Cultura no Shopping Salvador, será lançado o livro Cidade: pólis, urbe, desigualdade, capitalismo, meio ambiente, urbanização. Os professores do Antonio Mateus Soares, Flávio Assis, Anna Carvalho e Adônis Cairo  participam da concepção da obra e contribuem com artigos que tem como foco de análise a  cidade e suas principais questões.

A professora de Literatura Anna Carvalho, escreve o artigo Cidade e o desenho de si mesma: um espelho do séc.XVI e séc. XXI, o artigo da escritora evidência uma cidade que se institui a partir de seus antagonismos, referencia a cidade baiana – Salvador, como centro de contradições que se revelam tanto em sua topografia cidade alta e baixa, como na sua carnavalização irônica, que demonstra um profundo grau de despolitização de seus habitantes.

O professor Adônis Cairo, contribui com o artigo A Cidade aristotélica, pólis e urbe, é o texto que faz a abertura do livro, o autor descreve filosoficamente os sentidos da polis e da urbe no mundo greco romano, partindo de conceitos fundamentais que compreendem a cidade a partir de seu sentido político e morfológico, Adônis Cairo, afirma que a sociedade humana encontrou na pólis a forma mais organizada para se estabelecer relações e  encontros humanos, a pólis seria por definição um espaço para a realização da felicidade do homem, constituidora de uma unidade urbana que se tornaria base para o desenvolvimento político.

O sociólogo Antonio Mateus Soares, que junto com o geógrafo Flávio Assis coordenam o livro, escreve o artigo Feira de São Joaquim pedaço da África na Bahia, o autor afirma que a Feira se elabora como uma ecologia humana que se monta através de um ecossistema de permutas, que pode ser compreendida como uma abordagem sócio histórica que busca desvendar os processos de trocas entre o homem e a natureza. O livro também é composto por artigos de Cibele Saliba Rizek (Professora e Pesquisadora da USP) e Inaía Maria Moreira de Carvalho (Professora e Pesquisadora da UFBA).

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Diálogo com o poeta José Inácio Vieira de Melo

Por José Geraldo Neres







O abismo da criação de um poemário solar.
Diálogo com o poeta José Inácio Vieira de Melo

Há anos tenho acompanhado a trajetória do poeta, jornalista, produtor cultural e mítico centauro José Inácio Vieira de Melo. O gesto virtual facilita minha chegada a Jequié (uma de suas moradas). E logo em seguida estamos sentados na fazenda Pedra Só, que fica entre as cidades de Maracás, no Vale do Jiquiriçá, e de Iramaia, na Chapada da DiamantinaNo notebook, folheamos o livro Pedra Só, que ainda não estava no formato papel. Os cavaleiros Moisés e Gabriel, seus filhos, riem do meu jeito de concreto. Não sei lidar mais com cavalos, na infância era outra história... Mas o que interessa, agora, é dialogar com este singular poeta e saber um pouco mais sobre seu novo rebento poético, Pedra Só, que chega junto à primavera e começa a galopar por esse Brasil sem fronteiras.

José Geraldo Neres – Na terra do sol a pino, a natureza tem nas mãos todas as cartas e regras. Vejo a aproximação de um centauro escarlate. Na sua sombra cabem os aboios de todos vaqueiros e as cantigas de todos cantadores: antepassados daquele chão. No matulão: os livros anteriores e toda mística do aprendizado. Carrega nos ossos e na pele: Pedra Só (Escrituras Editora, 2012)Seus cânticos, José Inácio, cavalgam a revelar “as águas antigas” e “o poeta, o fogo, o cavalo”. Onde é a nascente deste galope?
José Inácio Vieira de Melo – Na origem do sentimento. Como está dito no poema “Pedra Só – XXV”: “A legião de vaqueiros / que me acompanha e que entoa, / na origem do sentimento, / o que a palavra não diz / mas a voz aboia”. Cada vez mais minha poesia caminha em direção às fontes primordiais, como quem busca encontrar o que não tem nome e ver o seu semblante e entrar na sua paisagem e comungar com o instante. E nesta busca há o desejo de trazer esse algo primo e vero para dentro do meu verso. Cada vez mais tomo consciência de que minha vida está intrinsecamente ligada a esta brincadeira que é a poesia. Mas existe coisa mais séria do que o ato de fazer o poema? Com a alma inquieta e buscando alento na linguagem – mesmo quando esta vocifera contra o Cosmo – vou conferindo para a ilusão do ser os efeitos da Natureza, que me banham no fogo sagrado da poesia. Eis a gênese.
JGN – “E eu regresso e lembro que fui, que sou e serei / um cavaleiro cozido nas brasas do Sertão, / dentro dos couros, com o sol no espinhaço, / no meio do tempo, no meio dos tempos”. Entrar nesta paisagem, comungar o verso dentro do verso: seria a necessidade de mergulhar com cavalo e éguas e tudo mais no abismo da criação?  “Passar o laço de seda / no mourão do sentimento / e escutar só a queda”. A queda transforma o medo? Quais são os medos do velho menino centauro? 
JIVM – Penso que se não houver um mergulho no abismo da criação não haverá arte, ou seja, o resultado do que foi feito não se afirmará como uma obra de arte, será algo superficial e, como tal, não trará vestígios das regiões abissais do ser. Mesmo aqueles que pretendem apenas quebrar o marasmo, têm que instaurar na sua criação um relampejo que suscite no receptor, na pessoa que aprecia, alguma lembrança de algo que não viveu, mas que está incrustado na sua essência. Essa sensação pode provocar um enorme incômodo. Por outro lado, pode, também, proporcionar um encantamento, uma epifania. A queda, da qual falo no poema, é do boi-medo. É preciso se encourar de coragem para laçar o medo e sustentá-lo no mourão do sentimento, que aí ele não resiste e, mais cedo ou mais tarde, cai. Porém o medo é plural: não é uma rês, é rebanho. E o velho menino centauro, que adora voar aos galopes pelos sertões, ainda tem medo de se desnudar ao público. E, vez em quando, veste o gibão da coragem e entra na caatinga braba para pegar o desgarrado “boi encantado e aruá” do medo. Mas, paradoxalmente, se meu boi morrer, o que será de mim?
JGN – “Um adolescente de couro moreno / que entrava no desembesto de um alazão / sonhando em chegar à lua / e abraçar a sua face de pedra / e beber as suas águas fêmeas” – Desnudar a palavra, a palavra dentro da palavra, a palavra a comer a palavra. Como arriscar-se nesta encruzilhada da libido, do erotismo, da sensualidade sem cair na facilidade que possa levar o texto à banalidade e à vulgaridade? Como tratar deste eixo temático, que aparece mais explicitamente nas suas últimas obras? Existe uma preocupação sua ao tocar neste assunto?
JIVM – Mas fazer poesia é correr riscos o tempo todo! Quem busca inaugurar sentidos não dá a mínima para o que quer que os outros pensem, digam ou deixem de dizer. E o meu caminho é este – o de desnudar a palavra e de exibi-la explicitamente para que se possa ver toda sua pureza e/ou toda sua luxúria, ou ainda, desnudá-la para lhe dar uma nova roupagem, uma indumentária que desperte em quem me reconhece um olhar estrangeiro e, em quem me é estranho, um relampejo de irmandade. Trato de qualquer assunto da maneira que for preciso, do jeito que o assunto se impõe dentro das formas que vou criando. Mas percebo que há uma grande diferença do erotismo concupiscente do Roseiral para os gestos pastorais com que se apresenta, agora, no Pedra Só. Não me pré-ocupo, mas no bojo do que estou fazendo, ou seja, da minha ocupação criativa, há sempre uma atenção que busca a tensão dentro do verso, que, na maioria das vezes, não se resolve imediatamente após o ato da criação. É necessário que haja um tempo para que a poeira assente e então eu comece a poder vislumbrar se os versos estão bem assentadas na fundação poética.

                              Pedra Só / José Inácio Vieira de Melo 
                           (Escrituras Editora, 2012). ISBN 978-85-7531-431-9


JGN – Gostaria de saber se houve uma preocupação estética no projeto deste seu livro, principalmente ao começar com um poema heroico. Que influência motivou a criação do poema “Pedra Só”que abre e dá título ao livro?

JIVM – Houve, sim, um pensamento estético, uma ideia nuclear que serviu como diretriz e sustentáculo do livro, embora essa ideia seja posterior a alguns poemas, que haviam sido feitos bem antes. E tudo se cristalizou na cidade do Recife, no apartamento do meu amigo Ronaldo Correia de Brito, grande ficcionista, autor dos livros Faca e Galileia. Ao mostrar um vídeo com um poema meu, recitado pelo ator alagoano Chico de Assis, e com imagens da fazenda Pedra Só, o Ronaldo falou: “Pedra Só é um belo título de livro”. Há muito eu já vinha com o cenário da fazenda Pedra Só povoando meu imaginário, e até mesmo idealizando outro cenário dentro daquele cenário, onde se misturavam e se amalgamavam outras paragens sertânicas onde vivi, como a Ribeira do Traipu, em Alagoas, e a Cerca de Pedra, aqui na Bahia, na mesma região da Pedra Só. Já tinha feito até um poema que falava do reino da Pedra Só. De modo que o ponto de partida já havia acontecido. Mas foi a partir da inquietação causada pela sugestão do Ronaldo que comecei a pensar em fazer um longo poema que desse conta do meu anseio pastoral e que fosse também banhado por minhas vivências. A referência que povoava os meus pensamentos, o tempo todo, era a poesia de Gerardo Mello Mourão, poeta que acompanho e me acompanha desde 1988, quando descobri, em Jequié, a sua trilogia Os Peãs, palco de um belo poema heroico e um marco na minha vida de leitor. Apesar de Os Peãs oferecerem a partitura que serviria como base para o meu poema “Pedra Só”, foi a “Suíte do Couro”, poema inicial do livro Algumas Partituras, também de Gerardo, que se tornou o referencial básico para o meu poema, ao ponto de algumas palavras do primeiro canto da suíte de Gerardo estarem presentes na primeira parte do meu poema. Com o intuito de reverenciar e referenciar o mestre, catei algumas palavras de seu canto de abertura e as espalhei ao longo do meu canto primeiro, pensando muito, também, em João Cabral de Melo Neto, quando diz no seu exemplar poema “Graciliano Ramos:”: “Falo somente com o que falo / com as mesmas vinte palavras”. Então, usei vinte palavras de Gerardo espalhadas nos versos de abertura do poema “Pedra Só”, fonte motriz de meu livro homônimo. Claro que há outras referências, e aqui quero registrar algumas: Luiz Gonzaga, Foed Castro Chamma, Herberto Helder, Elomar Figueira de Mello, Casimiro de Brito, Mariana Ianelli, Francisco Carvalho, Roberval Pereyr e o próprio Ronaldo Correia de Brito.
JGN – “O semeador da miragem / ouve dentro da tua fala, / lá onde está a busca da Luz, do Sol do entendimento”. O que dizer da influência dos cantadores em sua obra e vida? “Da boca dos pássaros, os violões do Sol”. Dá para escrever sem ouvir a fala destas pulsações melódicas? 
JIVM – Os cantadores se amalgamaram ao meu ser. Registrados na minha memória, perderam seus nomes para comporem a seiva do meu verso. Na matriz da minha letra poética há um cantador cego, lá na calçada da igreja de São Cristóvão, em Palmeira dos Índios, ou na feira de Arapiraca, ou ainda na Rua do Comércio, em Maceió, entoando uma toada em versos alexandrinos ou numa redondilha maior, cabalisticamente poetizando sua dor numa sextilha metrificada, tal qual o “Assum Preto” do Luiz Gonzaga, o rei do Baião. E lá, naquele cego da Rua do Comércio ou da Capela do Farol, estava plantada a semente de Homero, que brotava da sua ladainha para os meus sentidos. E todos os cantadores de meio de feira do Nordeste, desde Patativa do Assaré até o Cego Aderaldo, De Vavá Machado & Marcolino ao Galego Aboiador, e mesmo aqueles que nunca ouvi, chegaram até a minha sensibilidade nas asas do Pavão Mysteriozo, diluídos nas canções dos compositores nordestinos que surgiram na década de 1970, como o Raimundo Fagner, o Ednardo e o Belchior, no Ceará; o Alceu Valença e o Geraldo Azevedo, em Pernambuco; o Zé Ramalho e o Vital Farias, na Paraíba; o Elomar e o Xangai, na Bahia, e o Djavan, no país das Alagoas. Então, desde que eu me entendo por gente, dentro de mim um passarinho já soletrava, num idioma secreto, um aboio para o infinito – energia incandescente como os raios do Sol. As sinfonias de Beethoven chegam até a minha sensibilidade vestidas pelas matizes agrestes dos aboios dos cantadores. Não há como separar a minha escritura do nascedouro da minha voz, porque, o tempo todo, minha voz faz o caminho de volta ao silêncio – é como o Velho Chico voltando para sua casa, a Serra da Canastra, no país das Minas Geraes. E quando a voz quer dizer o que a palavra codificada não alcança, eu solto um aboio.
JGN – “Aí eu monto em meu cavalo baio, / entro no mato e ascendo nos garranchos / e começo a soltar meus aboios / para espantar o medo para bem longe”. Ao lado destas grandes vozes, cavalga um estilo musical cosmopolita? Poderia mencionar qual seria, ou como este diálogo acontece na existência do centauro-vaqueiro-poeta? É um contraponto?
JIVM – Sua entrevista está me deixado surpreso! Suas perguntas estão me levando para a música, quando normalmente os entrevistadores me levam para a poesia. Mas estou gostando muito, pois assim estou me dando conta de como a música exerce uma grande influência na minha criação. Pois bem, além das cantigas e das toadas dos cantadores e dos compositores da música popular brasileira, aprecio muito a música clássica. Beethoven, para mim, é a perfeição musical. Sua 9ª Sinfonia atinge os mais altos píncaros e, por mais que a escute, sou sempre comovido e arrebatado, sentindo êxtases, epifanias. Beethoven é pungente e pulsante, assim como pulsante e pungente é o som do Led Zeppelin, banda de rock que aprecio sem moderação. Dirigir pelas estradas dos brasis ouvindo o barulho bom do Led Zeppelin é uma maravilha, é como se estivesse montado num cavalo baio, galopando rumo ao sem fim. Raul Seixas percebeu isso logo cedo, ao fundir o forró de Jackson do Pandeiro com o rock de Elvis Presley. Devo mencionar aqui o Pink Floyd, que, com sua música psicodélica, fez-me tanta companhia nas minhas viagens... Isto tudo, ao invés de ser um contraponto, é um ponto de convergência, no qual todos os sons se somam para receberem a nomenclatura do meu aboio e criar a face da minha poesia. O Pedra Só tem o contributo de revelar essa jornada através de versos. É dedicado ao Luiz Gonzaga, pela passagem do seu centenário de nascimento, mas traz nas suas páginas um poema dedicado ao Bob Dylan, pelos seus 70 anos de existência. E do Bob Dylan ao Luiz Gonzaga é uma viagem só.
JGN – Não tinha como não perguntar isso, pois fiquei surpreso com seu repertório musical durante minha estadia na Bahia. Acredito na máxima que afirma que somos o resultado de todas as influências e escolhas em nossa existência, além do que, o Pedra Só está dividido por seções ou capítulos que remetem ao universo sonoro, como: “Aboio Livre”, “Toada do tempo”e “Partituras”. Além dos títulos dos poemas: “Vozes secas”, “Jokerman”, “Sonata das musas escarlates”, “Cantiga para Mariana”, “Cantiga para Leonardo”, “Cantiga para Ouro Preto”, “Cântico para Gabriel”, “Beethoven”, “Coro dos inocentes”, “Instrumento”, “Pavão Mysteriozo” e outros mais. Uso a música para descobrir o ritmo de cada poema, e tornou-se um costume ao ler um livro. Aproveitando o verso do poema “Pavão Mysteriozo”: “maior de todas as transcendências”, qual a sua maior transcendência? No fechamento deste poema surge o tema “indiferença”. Ele é o paradoxo da possibilidade de voar? Ou a incapacidade do homem moderno em observar neste voo suas raízes e ancestralidade? Ou, ainda, é mesmo indiferença para o “todo”, este drama contemporâneo das grandes cidades?
JIVM – A transcendência é sempre algo maior, que não há como mensurar. No verso que você cita, do poema “Pavão Mysteriozo”, há uma redundância que me parece necessária dentro da proposta do poema, mas transcender sempre nos leva à grandeza. E eu entro em estado de transcendência quando olho nos olhos de cada um de meus dois filhos e me reconheço em suas íris, como um facho de luz que se descobre Sol. Há um poema meu, do livro A infância do Centauro, que se chama “Gênese”. É um poema que fala de encontro, na verdade fala do Encontro. E este encontro com outra pessoa, que conduz ao Amor, é um momento de transcendência – e eu vivenciei aquele momento, por isso que encerro o poema assim: “É isso, quando te encontrei, nasci”. Transcender é um renascimento. Estar em contato com a Natureza é, para mim, uma condição indispensável para que levante esse voo. O homem moderno não tem tempo para nada, coitado! Não tem tempo nem para chupar uma manga debaixo do pé, quanto mais para ficar pensando em transcendência! Suas raízes, quando existem, são de ferro e de concreto, ou virtuais. Vive dentro de um ritmo que o impossibilita de ser quem ele é, massacrando-o. Ele sofre com a indiferença, mas é, também, indiferente ao que lhe está acontecendo. Automatizado, suas relações são pontuadas pelo trabalho e pela necessidade de especialização e reciclagem. Ou seja, o homem moderno é completamente condicionado a se enquadrar em padrões que são indiferentes às suas idiossincrasias. Aqui não está um apelo para que cada um faça o que bem quiser, sem medir consequências. A questão posta é sobre o grande desencontro em que estamos afundados. O outro deixou de ser o próximo para se tornar o rival, ou, na melhor das hipóteses, aquele que passa ao meu lado e eu não o consigo ver. A indiferença, ao meu ver, é a grande regente destes tempos ditos pós-modernos.
JGN – Conhecer a poesia nesses tempos modernos seria uma maneira de religar ou reencontrar as raízes perdidas. É possível acreditar nisto ou é apenas mais uma utopia? Como se relacionam o centauro-vaqueiro, o homem de família, o poeta e o agitador cultural? Como é o cenário literário baiano, em termos de projetos que acontecem e poderiam ser referência ou dialogar com outros projetos no Brasil? O caminho é o interior?
JIVM – A poesia é a minha religião e o meu caminho é o interior. Parodiando Fernando Pessoa, a poesia é a minha maneira de estar sozinho, de estar comigo e de contemplar o mundo. Eu só me reconheço quando sinto a vida pela poesia, porque aí a poesia da vida floresce. Mas isso é comigo, que acredito nas divindades, que acredito nos profetas/poetas e que rezo para as algarobeiras e para os pés de juá. A maioria das pessoas me acham um ingênuo, um bobo mesmo. E, de fato, o meu modo de ser me torna o bobo dessa corte que aí está. Melhor assim. Antes ser o bobo do que participar do banquete dos lobos. 
A Bahia é enorme, não tenho como dar conta do cenário literário deste país de Sosígenes Costa e de Elomar Figueira de Mello. Mas como fui editor de uma revista literária, organizei duas coletâneas e coordeno projetos em diversas cidades, tenho uma noção do que acontece por aqui, que não é muito diferente do que ocorre nos outros estados. Percebo que há muitos projetos em atividade na Bahia. E falar em Bahia é pensar em um estado que tem 417 municípios, divididos em 26 territórios de identidade. Pois bem, em todos esses lugares, a dificuldade para difundir a literatura baiana é enorme, pois os gestores, em sua maioria, não dão a mínima para a literatura. Muitos deles não sabem o que é literatura. Mas apesar dessa ignorância, há os abnegados, os que foram assinalados – a quem chamo de apóstolos – e que estão empenhados em levar a palavra poética aos povos (como isso soa bíblico!). E por conta desse trabalho de peregrino, as coisas acontecem aqui, ali e acolá. Um dos recantos baianos onde se espraia a literatura brasileira contemporânea, principalmente a poesia, é a cidade de Maracás, conhecida como Cidade das Flores, mas que já começa também a ser chamada de Cidade da Poesia. Pois bem, em Maracás acontece, uma vez por mês, o projeto Uma Prosa Sobre Versos, que já está no quinto ano. O evento consiste basicamente na participação de dois poetas, normalmente um baiano e um de outro estado, que são homenageados por um grupo de recitadores de poesia, o Grupo Concriz. Depois, os poetas batem um papo com uma plateia de mais de duzentas pessoas. Em linhas gerais, é isso. Mas por trás dessa explicação básica, há o envolvimento da comunidade para que o projeto possa acontecer. Pois os poetas convidados precisam de passagens, de hospedagem e de cachês. Os jovens recitadores, ensaiam todos os dias da semana para poderem apresentar um belo recital no dia do evento. Estou falando de um grupo formado por 35 pessoas, que tem crianças com quatro anos de idade, vários adolescentes e alguns adultos. E aquelas mais de duzentas pessoas da plateia, estão ali para ouvirem os versos de um poeta que já conhecem, pois no decorrer do mês anterior ao evento, os livros dos escritores são trabalhados nas salas de aula. O êxito do projeto repercutiu nas cidades circunvizinhas, como é o caso de Planaltino, onde acontece o projeto Palavra de Poeta, e onde há quatro grupos de recitais: Renascer, Nordestinidade, Flor de Mandacaru, que é da zona rural, do povoado de Campinhos, e só recita literatura de cordel, e o Brincando com Palavras, que é um grupo infantil. Pois bem, os diretores de cultura de Maracás, Edmar Vieira, e de Planaltino, Edivaldo Costa, fizeram uma parceria para que os projetos de ambas as cidades acontecessem em dias consecutivos, possibilitando que os escritores convidados para Maracás pudessem participar também do projeto de Planaltino, de modo que os grupos de recital das duas cidades se frequentassem, uma vez que cada um dos municípios fica com um poeta para recitar. Olha, não há como explicar a emoção de cada recital, a cada mês. Só sei dizer que os poetas convidados ficam em êxtase diante do que recebem. E, certamente, têm uma ideia do que aqueles momentos de pura poesia, transbordando daqueles jovens, serão marcos definitivos na vida de cada um dos que ali estão presentes. Acredito sim que a poesia pode causar mudanças na vida de cada pessoa e é por isso que sou o curador dos dois projetos. Na Bahia tem muito mais poesia circulando. Vou deixar para que, em outra entrevista, João de Moraes Filho, da cidade de Cachoeira, ou Clarissa Macedo, de Feira de Santana, ou ainda o Carlos Souza, da UBE, em Salvador, falem das suas experiências como coordenadores de projetos literários.

JGN – Retornando ao Pedra Só: como surgiu a estruturação e projeto deste livro? O capítulo “Toada do Tempo” começa com a epígrafe: “– E o poema faz-se contra o tempo e a carne”, verso de Herberto Helder, e reforça no poema “Escrituras”: “Eu chego no silêncio que acende / as quatro ferraduras do tempo”, deixando-me a provocação: como o centauro/poeta sente em sua carne este novo livro?
JIVM – Em uma resposta anterior, já falei um pouco sobre a estruturação do livro, mais detidamente sobre o capítulo inicial, o “Pedra Só”, que é o poema nuclear do livro. Antes deste poema, havia escrito alguns outros, mas só comecei a pensar em realizar o livro depois que fiz o “Pedra Só”. Os outros capítulos foram adquirindo compleição de acordo com o parentesco que determinados poemas demonstravam ter entre si. O segundo capítulo, “Aboio Livre”, mantém uma grande proximidade temática com o “Pedra Só”, é como se fosse uma continuação, embora não coubesse dentro desta seção. O terceiro, “Toada do Tempo”, é uma viagem para dentro do templo do tempo, lugar de onde se pode medir os átimos e sentir o absurdo da existência passar, passar rapidamente. Mas, por outro viés, há a possibilidade de perceber-se também fora do tempo e se amalgamar ao instante, que é só o instante para todo o sempre. É neste capítulo que uso com mais frequência o verso metrificado. A quarta seção, a mais lírica, chama-se “Partituras”, que é composta basicamente de cantigas e cânticos de louvor às musas, às crianças e a alguns lugares. O capítulo que fecha o livro, “Parábolas”, abre-se para outros horizontes, e, como o próprio título indica, é cheio de parábolas e de mandalas de matizes surrealistas, no qual um “Pavão Mysteriozo” sobrevoa os “Castelos de letras” que invento com minha caligrafia rústica. 
Outro detalhe importante do Pedra Só, é que as pessoas que fizeram os textos de apresentação e as imagens ilustrativas são amigos que conhecem a fazenda Pedra Só e que já passaram dias por lá, cavalgando em minha companhia. Deste modo, o jovem poeta Vitor Nascimento Sá, da cidade de Maracás, fez o texto das orelhas: “A Ítaca do Sertão e o demiurgo encourado”; o talentoso jornalista soteropolitano Gabriel Gomes, meu compadre, fez o posfácio, na verdade, um perfil intitulado “O Poeta e a Pedra. Só.”; ainda no posfácio, precedendo o perfil, há um poema de Elizeu Moreira Paranaguá – o Conde dos Lajedos, da cidade de Castro Alves – feito em uma noite de fogueira, no terreiro da casa dos meus quarenta anos; Há também a poesia das imagens capturadas pelo fotógrafo mineiro Ricardo Prado, meu parceiro de trilhas pela chapada e pela caatinga, que fez a foto da capa e mais sete internas, todas tiradas na Pedra Só. Apenas o texto da contracapa é que foi feito por um artista de além mar, que ainda não esteve no reino da Pedra Só, refiro-me ao escritor português Gonçalo M. Tavares, amigo que tive o prazer de conhecer em Olinda. Como se pode perceber, estou muito bem acompanhado, cercado de amigos. Não poderia ser diferente, visto que este é o meu livro mais autobiográfico.
Sinto que minhas carnes estão acesas, em sintonia com a cadência dos galopes e dos golpes dos dias. O Pedra Só aparece num momento de minha vida em que estou em plena atividade e menos apreensivo. Não crio expectativas em torno da chegada de mais um rebento, apesar de estar curtindo muito este momento. Deixo as coisas acontecerem naturalmente. E elas estão acontecendo com uma intensidade espantosa. Ademais, continuo a garatujar nos pergaminhos da invisibilidade a poesia que me é possível.

JGN – Sei que nossa conversa e sombras caminham ao longe, requerem mais sol para alimentar o canto de todos os vaqueiros e cantadores, e é sabido que “O mistério segue de casa em casa / a balançar a criança na rede”. O que mais dizer neste caminhar versos de “hinos circulares”?
JIVM – Que é isto mesmo: enquanto existirem poetas, o mistério da palavra encantada seguirá, de casa em casa, ressuscitando a criança em cada ser e anunciando o delírio da criação, inscrevendo nas suas retinas as partituras dos hinos circulares, encerrando e inaugurando ciclos. Agora, no início da primavera, começarei a viajar pelos brasis, levando este poemário solar, que fala do Sertão e do meu Ser, tão perplexo e assustado com todos esses caminhos. Começarei pela Casa das Rosas, em São Paulo, no dia 27 de setembro, atendendo ao seu chamamento, José Geraldo Neres, para lançar o meu Pedra Só, soltar uns aboios e recitar alguns poemas. Então, até já.


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*Fotos do poeta e da capa do livro: Ricardo Prado



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José Geraldo Neres. Poeta, ficcionista, e produtor cultural paulista. Três livros publicados;Olhos de barro (Editora Patuá, 2012) é a mais recente obra. Facebook:http://www.facebook.com/josegeraldoneresII  E-mail: jgneres@uol.com.br

terça-feira, 4 de setembro de 2012

ENTREVISTA COM A ESCRITORA/EDITORA MIRIAM DE SALES OLIVEIRA NO BLOG COMENDO LIVROS


“O público, hoje, vive numa sociedade de massa e lê o que aparece e o que a mídia aponta como bom.” (M.S.O.)
Por Anna Carvalho*
“Sou, como muitos escritores atuais, fruto da internet. Comecei a publicar contos, crônicas e artigos na rede, em 2008, utilizando o espaço de sites e jornais virtuais. Publiquei textos em antologias e arrisquei meu primeiro livro. Curiosa, lancei-me na aventura do livro digital...”. É dessa forma que a professora baiana formada pela Faculdade de Filosofia da Bahia, escritora por vocação, estudiosa de História e Literatura, editora e multifuncional Miriam de Sales Oliveira se define no seu site. Autodidata, gostava de fazer pesquisa histórica e literária, valendo-se, muitas vezes, dos inúmeros livros de sua biblioteca particular.
“Miriam de Sales é inteligentíssima, inovadora e uma das melhores autoras contemporâneas da literatura baiana. A atuação dela vai muito além da escrita e publicação, pois ela abre portas para os autores baianos onde quer que ela vá, ainda mais agora, atuando também na Pimenta Malagueta Editora e colocando os autores baianos nas principais livrarias do país”, disse o prestigiadíssimo autor baiano e idealizador do projeto Fala Escritor, Leandro de Assis.
Como pedagoga especializou-se em Piaget e Maria Montessori, ministrando cursos sobre esses mestres em várias escolas particulares de Salvador. Seus trabalhos literários são ecléticos, um passeio por vários temas, porém, todos com uma boa dose de humor. Escreve para vários sites e para jornais e é membro da Academia Poçoense de Letras e Artes, ocupando a cadeira 55. Alem de tudo isso, ela é membro da Academia de Cultura da Bahia, membro do Comitê de Autores da Câmara do Livro da Bahia.
“Agora que, com o advento da internet, brotaram novos talentos literários, está na hora de sacudirmos a literatura neste país que se encontrava semimorta. Esse contato com o autor e com os leitores é um fato muito gratificante para o editor. Trabalhoso, mas estimulante. Lidar com os mais diversos profissionais da editoração, artistas ilustradores é uma aula de diplomacia e trato com o público que o editor recebe todo dia. Todos os dias conheço pessoas novas e avalio textos. Sugiro correções, mas aqui, o autor é soberano.Ele é o dono do livro, eu só interpreto seu desejo”, disse Miriam. Agora, leiam com atenção essa entrevista exclusiva feita pela também escritora Anna Carvalho com uma das mais simpáticas literatas da Bahia, e olha que simpatia no meio literário é uma coisa quase em extinção.
Anna Carvalho – Uma certa vez Ana Cristina César, poeta oitocentista, disse que escrever era como ancorar um navio no espaço. Para você, como é o ato político da escrita?
Miriam de Sales Oliveira – O escritor é um ser do seu tempo. Tem que estar antenado sempre, e, como a política faz parte da nossa vida, seu dever é esclarecer os leitores, tentando criar um mundo melhor. Portanto, deve ser participativo e independente. Nunca ser um escritor gov.com.
Anna Carvalho – Em se tratando de mercado editorial, acho que existe uma exibição marcada de autores que já estão lançados, ou que sejam sucesso, ou ainda que tragam apologias necessárias nos livros de prateleira, somos provincianos também nesse aspecto. O que acha dessa burocracia editorial?
Miriam de Sales Oliveira – Terrível. Não se busca novos valores e as portas destas editoras estão quase sempre fechadas para os novos. As editoras preferem os "pratos feitos" que geram dinheiro, como os best-sellers estrangeiros cujo marketing é pronto e preparado para encantar o possível leitor. A mesma massificação que existe nas artes, na música e no cinema, existe também na literatura. A nossa editora foi criada por uma escritora e, portanto, procura fugir disto. Aqui abre-se espaço para novos talentos.
Anna Carvalho – Florbela Espanca falava do enigma de ser mulher em seu "fofo fátuo", como explicara literatura de gênero num mercado editorial tão politicamente correto?
Miriam de Sales Oliveira – A literatura tem que focar todos os gêneros. O leitor é que escolhe o que deseja ler. Há lugar para os "certinhos", mas os politicamente incorretos também têm sua vez. O talento é perene.Veja o Jack Kerouac, por exemplo.
Anna Carvalho – Qual a sua opinião, como editora e leitor-crítica, sobre a literatura contemporânea?
Miriam de Sales Oliveira – Anna, a literatura reflete sua época. Livros muito ruins estão nas prateleiras e são vendidos. O público, hoje, vive numa sociedade de massa e lê o que aparece e o que a mídia aponta como bom. Os livros que estão entre os mais vendidos isso sim, mera obra de ficção – pois, vendidos mesmo são os jornalistas pagos pelas editoras para propagandeá-los. "A Bahia de Outrora", que lancei em 2009, e já está na terceira edição, vendeu milhares de cópia, especialmente pela internet e não aparece em nenhuma lista. Duvido que aqui na Bahia existam estatísticas que mensurem as vendas de livros.
Anna Carvalho – Salvador vive por uma atmosfera ou um contexto situacional de tédio, festas e alegria estanques, sintomas de uma civilização incivilizada. Como propor o cenário alternativo numa terra que entende que AXÉ SEJA O SEU GRANDE NORTE?
Miriam de Sales Oliveira – Como lhe disse, estamos vivendo a era da comunicação e da escravização mental. O público lê o que o marketing determina, ouve as músicas que tocam massificadamente nas rádios e vê o que a TV mostra. A ninguém interessa esclarecer o povo. Povo esclarecido e lido vota certo. E, isso não interessa ao sistema. "Pane et circus" é o lema.
Anna Carvalho – Às vezes tenho a impressão de que o mercado editorial seja uma grande lâmina que ceifa todo e qualquer um que queira “peitar” as estruturas latifundiadas pelos escritores de sucesso. Isso de fato existe ou seria mera suspeita da minha parte?
Miriam de Sales Oliveira – O mercado editorial é um negócio como outro qualquer, e tem que dar lucro. Se alguém tem uma editora, hoje, vive cheio de apreensões, como a chegada do livro digital, por exemplo. E os impostos, os leitores que migram para a internet, os downloads... Assim, se eles têm um autor de sucesso, ancoram-se neste – lucro certo – e não lhes interessa buscar novas aventuras. O maior cliente das grandes editoras é o governo que lhes compra a produção. E os livros didático e paradidáticos, cujas licitações fariam o Cachoeira parecer um anjo. Engraçado, o Ministério da Educação nunca quis abrir essa caixa-preta. Voltando à sua pergunta, não é mera suspeita, não, meta-se com o "establishment" e você será triturada. Como não tenho medo de careta, continuo esclarecendo escritores, mas, alguns ainda caem nas lábias das livrarias e editoras. Porque buscam "status".
Existem grandes grupos livreiros que expõem os livros dos autores independentes, ou melhor, os recebem, mas, colocam os exemplares no fundo da loja, muitas vezes somem com eles e, quando vendem, nunca pagam ao autor. Pois, você acredita que muitos ainda colocam seus livros lá? E depois vão chorar pelos cantos.
Anna Carvalho – Não gostaria que essa conversa fosse apenas tangenciada pela questão de gênero, mas investindo ainda nessa direção, desde Nízia Floresta, Pagu, as mulheres eram petrificadas numa sociedade que entendeu que o gênero feminino era perigoso. Comenta.
Miriam de Sales Oliveira – Claro, as mulheres assustam porque são verdadeiras, guerreiras e enfrentam de peito aberto o sistema. Como disse alguém: “Como não temer o bicho feminino que sangra todo mês e não morre?” (risos) Mas a mulher, como a poesia, que aliás é do gênero feminino, insiste, resiste e persiste. Temos excelentes escritoras e poetisas. Odeio chamar mulher de poeta.
Anna Carvalho – Miriam, você mantém os blogues. Você poderia nos explicar qual o conceito desses blogues?
Miriam de Sales Oliveira – Ana, na verdade são nove. Sou doída mesmo e me garanto. Cada um esposa um gênero. Eles me projetaram na Oropa, França e Bahia. Mais de um milhão de leituras. O "Contos e Causos", o "Café com Pimenta" e "A Bahia de Outrora" foram criados para divulgar os livros do mesmo título. Porém, não são apenas marketng, trata de assuntos sérios e engraçados. "Conversa Fiada” bate nos políticos, comenta notícias, fala de cultura, educação e arte. O "Fiat Lux" trata da filosofia de um jeito que todos entendam. E esclarece o público sobre vários assuntos. O Miriam Sales trata da literatura, na visão da escritora Miriam Sales. O "Só-risos”, bem como o "Lado Avesso", é humorístico, cínico, crítico e desassombrado como a autora. Ainda tenho o blog da editora, onde divulgo nossa filosofia e onde cada autor tem uma página com fotos, biografia e atividades. E, como membro do MIL, escrevo no blog português Milhafre.
Anna Carvalho – O que você acha de blogs como o Literatura Clandestina?
Miriam de Sales Oliveira – O Elenilson é doído como eu e peita tudo. Adoro o blog e admiro demais o autor. Ele veio para arejar esta nossa literatura hoje tão fraquinha, meu Deus! É muito necessária esta abertura no mundo literário fechado em que vivemos. Palmas para ele!
Anna Carvalho – Descreva a Editora Pimenta Malagueta sob essa pretensão de galvanizar esse grito ainda excluído.
Miriam de Sales Oliveira – A Pimenta nasceu da raiva. E da decepção com as editoras. E da exclusão com que as "grandes" tratam os autores. Depois de levar cinco anos presa a um contrato medieval com uma editora paulista, que me deixou na cafua – não fazia carinho na moça nem saía de cima – ou seja, não publicava meu livro e nem me deixava publicar, jurei que eu mesma publicaria meus títulos. Comecei publicando o "Bahia" e os Contos Apimentados" e, então amigos e leitores da net apareceram pedindo para publicar o livro deles. "Em você, confio", diziam. E, publiquei. Com carinho, atenção e cuidados editoriais. Temos cinco meses e já publicamos vários títulos. Temos uma loja virtual. Temos autores satisfeitos e estou muito feliz. Trabalhamos sob demanda, mas, nosso preço é o menor do mercado. Além disso, damos apoio total ao autor, levamos seus livros as bienais e festas literárias. Colocamos seus livros nas livrarias. Breve estaremos distribuindo para todo Brasil. Estamos lançando uma seleta que dará o que falar. Tratamento editorial de primeira, textos escolhidos e que será lançada na Fliporto, em novembro. Obrigada pela entrevista. Perguntas muito inteligentes e oportunas.

Miriam Salles com Elisa Lucinda.

Com a Mabel Velloso.

Com o saudoso professor Hélio Rocha e Ivone Soll.

Recebendo o título da Academia de Letras y Artes de Buenos Ayres.

Discretíssima no Projeto Fala Escritor.
O último lançamento da Pimenta Malagueta Editora,
o livro “Nas Asas da Gaivota”, de Lucymar Soares.


E "last but not least", aqui vão os endereços da Editora Pimenta Malagueta:
Rua Polydoro Bittencourt, 31, Bonfim, Salvador - BA
editorapimentamalagueta.blogspot.com
pimentamalaguetaeditora.com.br
lojaedpimentamalagueta.com.br
Contato: miriamdesales@gmail.com
Venha tomar um cafezinho.
fotos: MSO/divulgação

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Homenagem aos escritores

Por CARLOS SOUZA

No último dia 25 de julho foi comemorado o Dia Nacional do Escritor, uma data ainda carente de visibilidade na imprensa brasileira, mas que aos poucos vem ganhando espaço através dos eventos que tem acontecido em torno deste dia.  A data foi criada a partir do I Festival do Escritor Brasileiro, que ocorreu no dia 25 de julho de 1960, realizado pela União Brasileira de Escritores-UBE, do Rio de Janeiro, que na época tinha como presidente João Peregrino Júnior e como vice-presidente Jorge Amado.
Diferente de outras datas comemorativas que tem forte apelo midiático e levam milhares de pessoas às lojas para comprar presentes, o dia do escritor não provoca este mesmo efeito. Neste dia, os autores não esperam receber presente, no entanto existe uma maneira peculiar para homenagear estes artistas da palavra. Para prestigiar o autor e incentivá-lo a continuar sua solitária jornada, a forma ideal para isso é comprar seus livros, assim o escritor se sentirá honrado no seu dia e na sua arte de escrever.
Quem não fez isso no dia 25, ainda está em tempo de se dirigir a uma livraria em busca de um livro do seu autor preferido, coisa que espero que entre eles tenha autores baianos. E como sugestão aqui vai alguns nomes: Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Morgana Gazel, Adelice Souza, Mayrant Gallo, Roberto Leal, Carlos Ribeiro, Ruy Espinheira Filho.
Nos últimos três anos têm ocorrido alguns eventos na Bahia, que vem ajudando a lembrar do Dia do Escritor, como uma data importante para chamar a atenção dos leitores e do poder público para a importância desse artista na sociedade contemporânea. Se a leitura é capaz de modificar o indivíduo, este trabalho passa antes de tudo pela mão do escritor. 
Para homenagear o escritor, a União Brasileira de Escritores – UBE/BA realizou no dia 20 passado, o seminário Movimentos Literários Contemporâneos da Bahia, com a participação do Círculo de Estudo Pensamento e Ação – CEPA; Movimento Cultural Artpoesia; Grupo de Ação Cultural da Bahia – GACBA; Projeto Fala Escritor; Viva a Poesia Viva; Caruru dos Sete Poetas; Sarau Bem Black; Galinha Pulando / Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus; Fundação Òmnira e Pós-lida. Estes são alguns dos grupos que atualmente trabalham com a promoção da leitura, do livro e de seus autores, além de funcionar como laboratório de poetas e de escritores de todos os gêneros literários de Salvador, Recôncavo e Região Metropolitana.

CARLOS SOUZA
Jornalista e Coordenador da União Brasileira de Escritores-UBE/BA


Artigo publicado no jornal A Tarde. Salvador, quinta-feira, 2/8/2012. Imobiliário, página 4

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

ENTREVISTA COM O ESCRITOR LEANDRO DE ASSIS

Entrevista realizada por Elenilson Nascimento para o blog Literatura Clandestina

“Para mim o Literatura Clandestina é sucesso.” (L.A.)


Prestes a lançar a antologia do projeto“Fala Escritor” na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, o militar, blogueiro, agitador cultural e escritor baiano Leandro de Assis Malungu abre fogo nessa entrevista exclusiva contra os “poetas” que só sabem provocar “saudade, melancolia e tristeza”. O autor de “Eu Sou Todo Poema” garante: Descobri que nem sempre os melhores escritores estão nas melhores editoras e livrarias e que alguns nem livro publicado têm, estão em blog’s”. 
O simpaticíssimo autor, exemplo não muito comum nas letras brasileiras, é um caso raro de um militar que anda dando certo como articulista e já conhecido poeta e, seguramente, o único que pode ostentar glórias tão díspares – como a de ser campeão de natação, bombeiro e autor de versos intrigantes na literatura baiana, como no caso do poema “Cidade sem futuro”“Os pacientes já não têm paciência/Os pobres estão morrendo no chão/Coitados dos que estão na emergência/Cidade vendida para turistas/Que vem atrás de carnaval/Curtem a festa, mas deixam doenças”, onde Leandro se mostra em carne e osso de que a força física pode conviver sem grandes traumas, em uma só pessoa, com um extremo apuro intelectual.
E esse poeta baiano continua entregue a uma difícil, suada e elegante batalha com as palavras. Leandro é, acima de tudo, rigoroso com o que escreve. Trabalha as palavras com a precisão de um médico na mesa de cirurgia. Despreza as emoções fáceis. Não quer nem ouvir falar de poetas e escritores que não tenham “interesse intelectual” e também alfineta essa imprensa de Salvador, cada vez mais medíocre:

“Entre ir fazer a cobertura de um evento e publicar algo que já chegou prontinho, o que você acha que este veículo irá escolher? Além do mais, tem pessoas e grupos que acham que são conhecidos e já se acham sucesso e esperam que a imprensa vá até elas, não é assim que a coisa funciona, é preciso ter humildade para crescer, estou apenas começando e estou buscando aprender com pessoas que trabalham com a arte e a cultura a muito mais tempo do que eu”, escreveu. 
Mas ele também fala da vaidade na literatura com uma frieza que chocaria os não iniciados e os mais sensíveis: “A única coisa que me incomoda na literatura brasileira é a vaidade de alguns autores (...) Aqui na Bahia tem alguns que compartilham seus textos na linha do tempo (Facebook) dos outros, mas quando alguém publica algo na deles, eles se desmarcam ou ocultam a visualização da sua linha do tempo”.
E num dos raros momentos de folga, ele deu essa entrevista exclusiva metido numa impecável pijama de xadrez de seda de mangas compridas abotoada até a gola. Uma vez, em sua casa de praia, no famoso bairro da Ribeira, combinou com um repórter da TV Bahia uma entrevista para as dez e meia da manhã. A circunstância de estar de folga de frente para o mar não lhe alterou o gosto de cumprir os horários com rigor. O repórter chegou vinte minutos depois da hora marcada. Leandro não perdeu a chance: “Você chegou com uma pontualidade nada britânica…” – foi à primeira saudação que ele pronunciou. Faz tempo que a cena ocorreu. Mas Leandro não mudou nada. Fora que é um dos caras mais brilhantes e simpáticos que eu conheço, apesar de termos diferenças gritantes de ideologias e crenças.Como escritor eu sou um cara frustrado, mesmo tendo sido eleito recentemente para Academia de Letras do Brasil Seccional Suíça, mas acredito que chegarei ao nível da Elisa Lucinda e estarei entre os mais vendidos em meu Estado, se eu não acreditar em mim quem irá acreditar?”, pontuou. Agora, curtam a entrevista.
Elenilson – O que te motivou a começar a escrever?
Leandro de Assis – Estudei no Colégio Estadual Ypiranga e todos os estudantes desta escola eram obrigados a conhecer a história daquele lugar. E numa dessas pesquisas sobre a vida e a obra do antigo morador de lá (Castro Alves), descobri a pequena biblioteca da escola. Lá tive contato com as obras de José de Alencar, Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo e outros clássicos da nossa literatura. Foi quando comecei a escrever, usando o próprio caderno da escola, cheguei a escrever umas trinta páginas de um romance e depois parei por não conhecer nada sobre o mercado editorial. O contato com esses autores através de suas obras até hoje é motivo de paixão e admiração.
Elenilson – Como você escolhe o nome de seus livros?
Leandro de Assis – Meu primeiro livro contém textos que escrevi de 1996 até 2007, é um livro de poemas, porém a maioria deles fala sobre meus sentimentos e das coisas que vivi durante pouco aquele período, então, precisava de um título que tivesse a ver com a história do livro, foi quando o escritor Valdeck Almeida de Jesus, após ler e fazer as correções ortográficas, sugeriu o nome “Eu Sou Todo Poema” e eu achei ótimo. Já o segundo livro, eu mesmo escolhi o nome, é uma obra totalmente diferente da primeira e nela eu grito para o mundo tudo aquilo que me aflige e incomoda na sociedade, tudo aquilo que me deixa inquieto são minhas ‘Inquietações’.
Elenilson – Eu disse, numa outra entrevista com o professor e crítico de cinema André Setaro, que fico puto da vida com a imprensa aqui nessa província chamada Salvador. Então, a mesma pergunta eu faço pra você: cadê os Cadernos Culturais? Cadê as cabeças criticando e falando de artes?
Leandro de Assis – Talvez você fique puto da vida comigo agora, pois raramente faço críticas à imprensa em relação à cultura, o Fala Escritor, projeto que desenvolvo e que fará três anos em agosto, é divulgado desde a primeira edição nos principais jornais do Estado, quando não sai nada num determinado veículo em um mês, sai no outro. Como posso criticar quem até aqui tem contribuído gratuitamente para o crescimento do Fala Escritor? Além do mais, faço minha parte, divulgo em meus blog’s os eventos literários que tomo conhecimento e quando vou num desses eventos costumo fazer a crítica, publicar em blog, enviar para jornais e compartilhar nas redes sociais, se todos fizessem isso seria uma maravilha. 

Elenilson – Como você encara essa imprensa de ócio não só na Bahia, mas no Brasil inteiro?
Leandro de Assis – Encaro como acho que deve ser encarada, vivemos num mundo capitalista e a imprensa vende a informação, ela tem seus custos e quer seus lucros. Se eu conseguir acesso a um veículo de informação não peço para ele ir ao meu evento, não peço para que venha me entrevistar, eu simplesmente envio as informações que desejo que sejam divulgadas e numa linguagem adequada aquele veículo e espero. Entre ir fazer a cobertura de um evento e publicar algo que já chegou prontinho, o que você acha que este veículo irá escolher? Além do mais, tem pessoas e grupos que acham que são conhecidos e já se acham sucesso e esperam que a imprensa vá até elas, não é assim que a coisa funciona, é preciso ter humildade para crescer, estou apenas começando e estou buscando aprender com pessoas que trabalham com a arte e a cultura a muito mais tempo do que eu. 
Elenilson – O que a literatura brasileira tem de bom e de ruim?
Leandro de Assis – A literatura brasileira é riquíssima, tem ótimos autores e a cada dia tenho buscado conhecer mais, vasculho antologias, blog’s, revistas eletrônicas e vou aos lançamentos de livros de autores que não conheço, pois, para mim, a literatura brasileira não é composta apenas por autores clássicos e autores renomados, mas também pelos diversos autores que ainda são anônimos para o grande público. A única coisa que me incomoda na literatura brasileira é a vaidade de alguns autores, para mim, quando a vaidade toma conta de um autor, quando ele se sente uma estrela, o seu trabalho começa a perder qualidade, pois ele deixa de criticar a si mesmo e passa a não aceitar a crítica dos outros. Aqui na Bahia tem alguns que compartilham seus textos na linha do tempo (Facebook) dos outros, mas quando alguém publica algo na deles, eles se desmarcam ou ocultam a visualização da sua linha do tempo.
Elenilson – Qual a diferença entre os seus dois livros de poemas “Inquietações” e “Eu Sou Todo Poema”?
Leandro de Assis – Vou pedir licença e deixar meus amigos Valdeck Almeida de Jesus e Carlos Conrado falarem sobre esses livros: “Eu Sou Todo Poema de Leandro de Assis sangram, choram, agonizam e amam. Refletem a angústia do ser humano diante de uma sociedade que vive a se debater entre sagrado e o profano, entre o prazer e a dor, entre o "ser" e o "dever ser", entre intermitentes desígnios de Eros e Tanatos. Em Sobre Eu e Eu Sou lanteja um refluxo de palavras que oscilam entre o Eu Sublime e o EU Anárquico, e deixam no ar os cálidos vestígios do Eu Visceral - que é o Eu imperscrutável, inacessível, de mistérios e desejos transcendentais, não explicáveis à luz da razão bem comportada”, disse Valdeck Almeida. E “Inquietações”: “Os versos do escritor Leandro de Assis pulam das folhas e invade as nossas mentes para plantar a semente de tudo aquilo que fazemos questão de ignorar. O Livro “Inquietações” marca o amadurecimento do poeta e torna a sua visão mais aguçada que outrora. Leandro registra aqui o seu encontro com Deus e com o amor em todas as suas vertentes. Faz-nos refletir sobre os rumos das nossas atitudes e suas consequências. Em outras palavras... a sua poesia nos incomoda. Seus personagens e situações são tipos de uma nação que clama por dias melhores. Crianças abandonadas, violência, drogas, ódio, política depravada!... Deus! O Salvador e curador de todas essas mazelas provocadas por esta sociedade a qual fazemos parte. Inquietações é um livro inquieto até em sua estrutura óssea”, escreveu Carlos Conrado. 
Elenilson – Escrever um livro não é fácil, e tem que ter muita dedicação. De onde você tira suas forças, já que você é um cara multiuso? 
Leandro de Assis – Tiro forças dos sentimentos, quando estou com raiva, por exemplo, escrevo tão rápido que parece que estou gritando e que tem alguém me ouvindo, é como se eu estivesse discutindo com alguém, principalmente quando se trata de uma injustiça. Quando estou triste, escrevo com lágrimas nos olhos, às vezes elas caem, fico muito emocionado e tenho que parar para não sofrer mais, não sou de esconder sentimentos, não finjo que o olho está coçando quando na verdade às lágrimas pedem passagem. Assim vou escrevendo, sem me preocupar se uma crônica ou um poema será parte de um livro ou não, quando me obriguei a escrever para publicar não saiu nada, então é melhor continuar escrevendo por amor e se tiver que publicar basta reunir os textos.

Elenilson – Como você encara a formação intelectual dos jovens em nossas universidades? A universidade tem cumprido seu papel na formação desses jovens?
Leandro de Assis – A universidade recebe muitos analfabetos funcionais e por isso precisa ensinar coisas que os alunos deveriam ter aprendido no nível médio. Assim é muito difícil para as universidades cumprirem seu papel, pois tem alunos que ainda entregam trabalhos copiados do Wikipedia. São esses alunos, caro Elenilson, que te pagam por monografia e TCC.
Elenilson – Hoje em dia, muitas editoras e a mídia em geral têm se acomodado na divulgação dos seus best seller de vampiros e Harry Portter e dito que escrever livro é uma coisa ultrapassada. Como você vê este ofício?
Leandro de Assis – É como na música, muitos ótimos cantores estão tocando em barzinhos e o público não dá valor, mas quando eles alcançam o sucesso e uma grande gravadora abraça o trabalho deles, seus show’s passam a custar R$ 80,00 e todos reclamam dos valores praticados. As editoras são empresas e continuarão investindo naquilo que gera lucro, o problema é que os pais e professores acreditam que os adolescentes não gostam de ler e não os incentivam a buscar uma literatura diferente e eles por si mesmos chegam à literatura fantástica. Não vejo problema nesse tipo de literatura, a não ser quando esta é a única linha literária consumida por esses jovens, isso sim é um problema. Segundo a revista Raça, o livro “Parem de Falar Mal da Rotina”, de Elisa Lucinda, é o segundo livro mais vendido no Rio de Janeiro, perdendo justamente para Harry Portter, e é um livro de prosa. E daí se uma editora não acredita que prosa de não-ficção não vende? Quem tem que acreditar no teu livro é você. Temos bons escritores na Bahia, porém eles, assim como eu, são péssimos vendedores.
Elenilson – Você acha que a internet, assim como fez na indústria fonográfica, vai acabar com o mercado da leitura, ou na melhor das hipóteses mudar alguma coisa?
Leandro de Assis – Não acredito, eu odeio ler livros inteiros numa tela, leio apenas publicações em blog’s, se passar de três páginas eu imprimo e não sou o único. Quanto às mudanças só daqui a alguns anos para que possamos descobrir o que mudou, estamos vivendo essas mudanças e assim é difícil percebê-las.
Elenilson – Como surgiu a ideia de criar o Fala Escritor? E quais os critérios para escolher os participantes?
Leandro de Assis – Queria conhecer os donos dos textos que eu lia nos blog’s, então, entrei numa comunidade do Orkut chamada “Escritores de Salvador” e fiz a proposta de um encontro com recital poético e oportunidade para todos mostrarem seus trabalhos. Sabia que não poderia fazer isso sozinho e convidei outros escritores: Valdeck Almeida de Jesus, Fau Ferreira, Monique Jagersbacker, Grigório Rocha, Carlos Sousa e Renata Rimet. Pessoalmente eu só conhecia o Valdeck, os outros conheci pelo Orkut e convenci a participar do projeto, exceto Renata que conheci numa livraria. Como é um evento voltado para escritores, as palestras e palestrantes precisam entender sobre mercado editorial, já o quadro “Quem é o Escritor?” convidamos qualquer escritor que tenha uma obra interessante, seja ela publicada em livro ou em blog’s e nosso recital poético é aberto, a inscrição ocorre durante o evento.

Elenilson – O livro vai acabar ou vai acabar se adaptando a este novo formato de mercado?
Leandro de Assis – Não acredito que o livro irá acabar. Acredito que eles ficarão menores para caberem nas bolsas e nos bolsos (risos). Talvez meu próximo livro já seja nesta linha de “livros de bolso”.
Elenilson – Qual o seu maior orgulho no seu trabalho?
Leandro de Assis – Como organizador do Fala Escritor, meu orgulho é a cada dia conhecer novos escritores e seus trabalhos, principalmente quando começaram a escrever por incentivo ou influência nossa. Como escritor eu sou um cara frustrado, mesmo tendo sido eleito recentemente para Academia de Letras do Brasil Seccional Suíça, mas acredito que chegarei ao nível da Elisa Lucinda e estarei entre os mais vendidos em meu Estado, se eu não acreditar em mim quem irá acreditar? Como organizador do Concurso Literário Ebenézer, estou satisfeito, a primeira edição do concurso rendeu bons frutos literários e a segunda edição está com inscrições abertas.
Elenilson – Quais são os desafios que você tem enfrentado como escritor? 
Leandro de Assis – Vender livros é o maior desafio. O segundo é engraçado, muitas pessoas que não conheço vão prestigiar as programações do Fala Escritor e meus amigos sempre dizem que irão e não comparecem. Fico chateado com isso, ainda não aprendi a entender que nem todos gostam de literatura e para piorar alguns ainda perguntam: “vai ter coffee break?”. Um dos amigos chegou a me dizer que poeta bom é poeta morto e que depois da minha morte comprará meus livros, pois ai sim será sucesso.
Elenilson – Em vários sites de autores anônimos, eles oferecem aos leitores a oportunidade de baixar capítulos ou até mesmo um livro inteiro. Você acha válido esse novo formato para que a pessoa leia e tire as suas próprias conclusões e se vale à pena ou não comprar o livro?
Leandro de Assis – Acho válido como um investimento de marketing, mais uma vez comparo o escritor ao músico, os primeiros discos, ele distribui de graça, vende a R$ 1,00, gasta mais do que ganha até que uma grande gravadora o descobre e acredita que aquele trabalho lhe dará lucro. O engraçado é que muita gente que não comprou aquele disco quase de graça, comprará o da grande gravadora por um valor muito maior só porque está nas rádios ou nos programas de TV. Isso é péssimo para o artista, pois a partir desse momento a maior parte dos lucros do seu trabalho vai para os empresários e não para o autor. Se esses autores colocarem seus livros numa grande livraria dará no mesmo, pois elas ficam com 50% do valor de capa, tirando o investimento do novo autor com a editora ele só terá prejuízos financeiramente falando. Mas se ele acreditar no seu potencial e quiser lançar numa grande livraria como uma ação de marketing, isso será um investimento que no futuro lhe dará um retorno.
Elenilson – Quais foram suas maiores descobertas na literatura?
Leandro de Assis – Descobri que nem sempre os melhores escritores estão nas melhores editoras e livrarias e que alguns nem livro publicado têm, estão em blog’s. 
Elenilson – Qual seu maior conflito? 
Leandro de Assis – Investir tempo e dinheiro com literatura e não ter retorno financeiro. Às vezes, penso em parar, mas aí vem alguém e diz que começou a acreditar em si mesmo e na literatura através do Fala Escritor ou de algum depoimento meu e isso me faz continuar. No seminário da UBE, por exemplo, um poeta me disse ter mais de 160 poemas e que influenciado pelas minhas palavras e pela minha história contada no seminário iria publicá-los.
Elenilson – O que normalmente tem ouvido em casa (*não quero saber de músicas de crente)? E com relação às suas leituras?
Leandro de Assis – Depende do momento, mas minha preferência é escutar rock e reggae, ultimamente tenho escutado Rodolfo Abrantes, Petra e Shaba Roots (um banda de reggae formada por alguns amigos do meu bairro). Quanto às leituras, leio sempre um autor baiano e outro título de qualquer de áreas que me interessam como história, geografia, sociologia, filosofia, anarquismo, jornalismo e produção de texto.
Elenilson – As artes no Brasil, feitas à base de patrocínios públicos e por famílias muito ricas, querem tudo menos se comprometer. Quando há discordâncias, é de uma patota em relação à outra. Jornalistas de renome na Rede Bahia, por exemplo, consideram que resenhar livros e discos é uma atividade menor, é comprar brigas por nada. Comenta.
Leandro de Assis – Nem tenho vontade de comentar, já basta os meus conflitos, não quero pensar em outros que podem ser maiores. Basta a cada dia o seu mal!

Elenilson – Muita gente deve achar que você é um maluco ou, na pior das hipóteses, um desocupado por trabalhar com literatura numa província medíocre como Salvador. Como você encara essas futricas e panelinhas?  E como encara as críticas?
Leandro de Assis – Devo ser maluco mesmo, nessa área todos são. Quanto às futricas e panelinhas, eu escuto algumas coisas, mas evito comentar porque não é comigo, recebo todos que queiram participar do Fala Escritor e quando posso vou a outros eventos literários, mas às vezes um lançamento ou outro acontece em dia que estou no quartel. Nesta semana gostaria de ir ao Pós-Lida e no sábado gostaria de ir ao CEPA (Círculo de Estudo Pensamento e Ação), mas estarei de serviço nos dias destes eventos. Quanto às críticas, elas são bem-vindas.
Elenilson – Críticas na Bahia, por exemplo, parecem ser sinônimo de pendenga pessoal. Comenta.  
Leandro de Assis – As pessoas pensam que quem crítica é inimigo e nem sempre é assim, eu faço critica aos amigos e aceito críticas deles também, na última edição do Fala Escritor não deu tempo de uma escritora falar do seu trabalho, ela se chateou e criticou a minha postura, a de outros colaboradores e nem quis me ouvir, não quis saber as razões, apenas disse que quando ela não for a primeira a se apresentar que não a chame mais. Encontrei-a no seminário da União Brasileira de Escritores e senti que ela ficou com receio de falar comigo, fui lá e falei com ela, pois entendo que não foi nada pessoal, foi uma crítica ao meu trabalho e a minha política de organização no Fala Escritor.  
Elenilson – Será mesmo que para se fazer sucesso na Bahia você tem que se anular, não tem senso crítico, ser amiguinho de todo mundo, viver o tempo todo sorrindo, amar e bajular as demências da Wanda Cheise e Marrom e seus genéricos, e principalmente dizer que tem baianidade?   
Leandro de Assis – (risos) Eu não faço isso. Será que é por isso que ainda não faço sucesso? Também não sou artista do axé para andar na boca do Marrom e da Wanda Cheise. Além disso, essa questão de ser ou fazer sucesso é relativo. Para mim seu blog Literatura Clandestina é sucesso, talvez para você mesmo não seja. Todos os meses meu nome está em algum jornal, site ou blog devido ao projeto Fala Escritor, conheço muita gente importante do cenário cultural e literário, mas sucesso para mim será quando eu lançar um livro e a venda ultrapassar mil exemplares.
Elenilson – Qual a importância da universidade e da vida acadêmica no seu trabalho?
Leandro de Assis – Na minha obra literária? Não sei... Formei em licenciatura em história e meu curso foi todo focado na questão do ensino, acho que sou um bom professor, quanto a isso a universidade cumpriu seu papel, pois conseguiu me fazer acreditar que a educação é a uma das formas capaz de transformar a nossa realidade. Além disso, aprendi a desenvolver projetos e foi lá que conheci grandes autores como Durkheim, Comte, Proudhon, George Woodcock e René Rémond.
Elenilson – Você escreveu: “Todos os dias penso no amor, não por ser poeta, mas sim por amar... por ter alguém especial ao meu lado, alguém que acredito que foi separada por Deus para mim e que em um momento da minha vida Ele tocou no meu coração e disse: ‘É ela, agora é com você, conquiste-a’”. Achei isso demasiadamente clichê, para não usar outra palavra. O que Deus tem a ver com a sua vida sexual e afetiva? Com tantas coisas para Ele se preocupar, você acha mesmo que Ele ainda vai ter tempo de ficar “ligado” com quem você dorme?    
Leandro de Assis – Você achou isso por não conhecer a Deus. A minha relação com Deus é uma relação de pai e filho, em diversas passagens bíblicas Deus se mostra e se comporta como nosso pai. Leia Lucas 11:9-13. Procuro ter intimidade com Ele e não penso que por Ele estar se preocupando com algo da minha vida que você acha insignificante Ele esteja abandonando outras questões, pois Deus é onipresente, onisciente e onipotente. Deus tem tudo a ver com minha vida afetiva, pois ele se importar com a felicidade dos seus filhos. Entrega teu caminho a Ele, confia Nele e verá.
Elenilson – Você é crente, militar e vive andando em más companhias, portanto, tem tudo para que eu detestasse você. Contudo, rolou justamente o oposto. Eu já sei o motivo, mas queria saber de você também.
Leandro de Assis – (risos) Reparou que nunca te perguntei quais são as más companhias que você se refere? Quanto a ser cristão e militar, que bom que você ultrapassou a barreira do preconceito e se deu oportunidade de me conhecer e perceber que na sociedade existem estereótipos de “crente” e “militar”. Infelizmente ainda existem muitas pessoas que generalizam e acham que todo militar é “isso ou aquilo” e da mesma forma com os cristãos.  

Elenilson – A idolatria da mediocridade, tão comum nestes tempos petistas, merece e deve ser respeitada, pois, por exemplo, um sistema de cotas como da UFBA sem um prévio programa de reforço nas escolas públicas se serviram para elevar o fosso intelectual que separa esses estudantes dos privilegiados (*a UFBA ainda é uma universidade para ricos e os poucos pobres que estão lá, estão por serem ousados). Precisamos ter cuidado com essas bravatas politicamente corretas para não sermos enganados novamente. Vou ficar atento quanto essa "nova" política de avaliação nos vestibulares da UFBA, mas não tenho mais nenhuma esperança com mudanças. Comenta isso.
Leandro de Assis – Não estudei na UFBA e nem sei se irei estudar lá algum dia. As cotas não ajudam em nada, pois tenho amigos que por estudarem lá são obrigados a sair do emprego, não conseguem conciliar devido às aulas de seus cursos serem em mais de um campus e também devido aos horários das aulas, dependendo da disciplina, acontecem em turnos diferentes. Acho que esse é um grande problema e poucos observam, pois o que adianta uma cota para entrar e depois ter que largar o trabalho para estudar, não conseguir se manter e ter que trancar semestres? Muita gente pobre, porém guerreira, que estuda e tem condições de ser aprovada na UFBA opta pela universidade particular devido à facilidade de conciliar com o trabalho. 
Elenilson – Ler um bom livro é como um casamento selado entre a memória e a história desentranhada das palavras. O que você anda lendo?
Leandro de Assis – Como disse antes, leio sempre um autor baiano e outro qualquer. Neste momento estou lendo “Nos Bastidores do Na Mira” de Valdeck Filho e “A Arte de Escrever Bem” de Arlete Salvador e Dad Squarisi. Além de poesias, contos e crônicas na internet.
Elenilson – O Giuliano Manfredini, filho do Renato Russo, disse numa entrevista que “ninguém pode falar que é heterossexual se nunca experimentou o outro lado”. Achei até observação muito pertinente, mas quando fui entrevistá-lo e pedi para ele explicar melhor, simplesmente fui ignorando. Você não acha que hoje em dia as pessoas adoram falar que “comem todo mundo” só para aparentarem modernidade? Você acha que isso pode acabar rotulando e consequentemente influenciando os seus trabalhos? Como você lida com isso?
Leandro de Assis – Renato Russo eu conheço, mas quem é Giuliano mesmo? Ah tá, o filho, e daí? E “comer” todo mundo é ser moderno é? Nem sabia. Meu trabalho não tem nada a ver com o cara que “come” todo mundo, não sei como isso poderia rotular meu trabalho. 
Elenilson – A política no Brasil se tornou uma lata de lixo. A justiça no nosso país só “funciona” para pretos e pobres como ficou evidente na Câmara do Senado, no caso da dePUTAda Jaqueline Roriz (PMN-DF) que escapou com facilidade, sob o argumento de que a corrupção era anterior ao mandato. Fica para o historiador do futuro emitir a sentença para esses tempos bicudos. Contudo, na época do Renato, que fez algumas letras bastante políticas, a coisa não era tão diferente assim, mas a juventude era mais atenta. O que você acha da cena política?  
Leandro de Assis – Acho que a cena política é reflexo da sociedade, enquanto o individualismo for a marca da sociedade, teremos políticos que “governam” para si e para os seus. Não podemos esquecer que os candidatos saem do nosso meio. 
Elenilson – E sobre essa juventude asneada desse novo – ainda velho – século?
Leandro de Assis – A juventude atual tem um problema sério, o imediatismo. Querem tudo para ontem, não fazem planejamento de nada, não tem paciência e não sabem esperar por uma oportunidade. Além do mais, muitos se acham e querem ser adorados, no primeiro problema que enfrentam caem em depressão. Essa é a geração do muito falar e pouco ouvir e o que mais falam é: EU SOU. Ainda bem que não são todos. 
Elenilson – A multiplicação recente dos programas de TV locais voltados para a abordagem da violência, do mundo cão e dos dramas da vida privada dos miseráveis gerou uma atividade nova nas delegacias de polícia e incorporou uma tarefa nova à rotina dos policiais. Muitos delegados e policiais, interessados em “colaborar” como produtores de conteúdo desses programas, e claro, sempre muito mais interessados em ficar bem na fita com os apresentadores e em evidência sob os holofotes, sobretudo no caso de delegados em busca de um mandato de deputado estadual nas eleições de outubro, incorporaram a câmera filmadora a suas rotinas de trabalho. Comenta, como observador desse caos. 
Leandro de Assis – Quando assisto um delegado ou um policial militar entrevistando um preso para a TV fico com raiva, isso mesmo, entrevistando, tomando o lugar do repórter. Para piorar a situação, depois da entrevista o repórter vira juiz e dá a sentença, diz quantos anos o cara vai ficar preso e o que vai sofrer na cadeia. Mas minha raiva não é por pena do preso e sim porque amanhã, quando este policial se envolver ou for envolvido numa situação, os jornais e os repórteres também darão sua sentença e sem nem se quer ouvi-los. Quando o problema é com polícia, inexistem as palavras suspeito ou acusado nas chamadas das matérias ou nas capas dos jornais, o que sai lá é a sentença dos poderosos.
Elenilson – O que você pensa ou como se sente diante desse panorama cultural atual na Bahia?
Leandro de Assis – Lá no bairro onde moro tem o Cine Teatro Plataforma, o espaço é lindo e as programações são ótimas, mas muita gente do próprio bairro não frequenta, mas vão aos show’s de pagode na Pararela e depois ficam reclamando dizendo que no bairro não tem nada. Tem sim, mas eles querem é Parangolé lá no bairro. Em diversos pontos da cidade tem artistas e programações culturais e o povo não dá valor. Paguei R$ 40,00 para assistir “O Indignado” num teatro na Av. Juracy Magalhães e meses depois o mesmo espetáculo estava por R$ 2,00 no Cine Teatro Plataforma. Eu só reclamo de alguma coisa depois que faço a minha parte, neste momento estou fazendo a minha parte.
Elenilson – Prefiro ser expulso da ABL a não ser lido por um cara na Feira de São Joaquim. E você? Venderia a alma para ser publicado pela Secretaria da Cultura da Bahia ou pela Casa de Jorge Amado, com esses editais encomendados e de cartas marcadas? 
Leandro de Assis – Nunca pensei em ser publicado por eles e agora que comecei a prestar atenção nesses editais, eu não passo meu tempo pensando em como conseguir uma grana pública. Conheço um escritor que vendeu cinco mil unidades do seu livro nos coletivos, ele entrava pela frente, recitava seus poemas e apresentava e vendia o livro. Posso até fazer inscrição para um edital desses um dia, mas não vou passar a vida esperando por eles. Tem mais de 1600 pessoas no meu perfil do Facebook e 1500 delas não tem meu livro, é nisso que eu penso. 
Elenilson – As pessoas perderam a capacidade de se indignar?
Leandro de Assis – Reflexo da [IN] justiça.
Elenilson – O que ainda podemos esperar do Malungu?
Leandro de Assis – Muito trabalho.
Elenilson – O que deixaria de mensagem para os que começam a carreira agora?
Leandro de Assis – Esteja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar. Seja persistente e inovador, acredite em si mesmo (mas não se ache), se precisar discutir, faça isso no campo das ideias, não leve para o lado pessoal e por último reconheça e honre a todos que te deram à mão. 
 Comandando o Projeto Literário Fala Escritor. Se cuida Bial!
 Aprendendo um pouquinho com Elisa Lucinda. Que luxo!
 Sendo dirigido por Elisa Lucinda,
no projeto “Palavra de Polícia - Outras Armas”.
 Com o escritor Jorge Carrano.
 Numa noite de “loucuras” e de autógrafos na Livraria Saraiva
 - Shopping Iguatemi, Salvador - BA.
 Com Jandi Barreto e Keyla Nabuco no Fala Escritor.
 Recebendo a Placa de Prata 2012, referente ao Fala Escritor.
Fazendo demonstração com bujão de gás para crianças carentes.
Escritor rico e bem sucedido em Salvador. Só na farra!